José Saramago - Viagem a Portugal 2
"Linhares é boa terra. Mal desembarcou, logo o viajante criou amizade com o encarregado das obras que se faziam na Igreja da Misericórdia, pedreiro-mor da vila e abridor benévolo de todas as portas. O viajante teve em Linhares um guia de primeira ordem.[...] aqui,a meio da calçada, está uma tribuna de pedra que antigamente tinha cobertura e agora não, e era onde se reunia a câmara: sentavam-se nestes bancos e em voz alta discutiam os assuntos municipais, à vista do povo, que ouvia de fora e das janelas. [...] O castelo deve ter sido enorme. Estão a dizê-lo as duas gigantescas torres de granito, a altura das muralhas, toda a atmosfera de fortaleza que dentro se respira. Bem estaria assim, porque no tempo das guerras contra os sarracenos foi guarda avançada portuguesa. Reinava o senhor D. Dinis de quem, daqui a pouco, o viajante terá de voltar a falar. Quem sabe se neste castelo não foi que desceu sobre o rei-poeta a inspiração, vendo lá em baixo os pinhais. «Ai flores, ai flores do verde pino.» Enfim, o viajante está hoje muito imaginativo"
in Viagem a Portugal, José Saramago